Brincadores de pedras, floreando o chão que os outros pisam, os calceteiros construíram as suas vidas em função dessa profissão artística, artesanal, tão dura quanto livre. Em fotografias antigas vemo-los alinhados, de cócoras, em campanhas de obra de grande envergadura, vestidos de igual em seus trajes rurais de calça cinza, camisa branca, colete negro e chapéu de feltro de aba larga, botas de atanado, mãos calejadas afeiçoando pequenas pedras que vão dispondo nas cercaduras dos moldes.
No livro „Fanhões. Homines Petrae“ Ernesto Matos descreve e coleciona exemplos desta velha cultura portuguêsa…
Nessas campanhas de obras públicas levadas a cabo em Lisboa no final do século XIX, os cal¬ceteiros aparecem como embelezadores das Avenidas Novas idealizadas por Ressano Garcia. Depois de rasgadas e construídas as largas avenidas, chegavam esses homens, com os seus instrumentos simples, a sua força e arte, a fim de pavimentar os passeios da capital. A rotina e tradição mantiveram-se por muito tempo, entrando em declínio na década de 90 do século XX.
Hoje, perigosamente, vamos ouvindo dizer que a calçada à portuguesa é um tipo de pavimento desconfortável e de difícil manutenção. Mais uma vez, por ignorância e pouco discernimento, corremos o risco de ver mudada a tradição e o gosto português. Temos a obrigação de identificar e de preservar este património, tanto quanto devemos ouvir e recordar – e agradecer – a sabedoria dos antigos calceteiros de Fanhões. Uma homenagem sincera a estes homens é o intuito deste livro, já que eles bem a merecem.
„Fanhões. Homines Petrae“, Ernesto Matos, Sessenta e Nove Manuscritos, 2014, ISBN 978-972-95608-8-0
Ernesto Matos é licenciado em Design de Comunicação e autor de inúmeros livros sobre a calçada portuguesa.
Contato: Ernesto Matos (Mail)
Fotos: Ernesto Matos
(11.02.2015)